POR ANTÔNIO VILLAR MARQUES DE SÁ.
"A origem exata do xadrez é misteriosa, conhecendo-se 40 lendas até o presente momento a este respeito. Dentre elas menciona o herói grego Palamedes, como criador do jogo de xadrez , durante o cerco de Troia, com o objetivo de distrair seus guerreiros. A tradição mitológica indicava Palamedes como um personagem de grande criatividade, atribuindo-lhe, entre outras invenções, o alfabeto e os números.
Entretanto é no Noroeste da Índia que se encontram as primeiras fontes arqueológicas reconhecidas como verdadeiras. Aproximadamente no ano 570 de nossa era nasce o jogo dos quatro membros( chaturanga em sânscrito), o ancestral direto do xadrez. participavam dele quatro parceiros, possuindo cada um oito peças, sendo um Ministro( mais tarde a Rainha, no presente a, Dama), um Cavalo, um Elefante (hoje o Bispo), um navio (mais tarde uma carruagem nos nossos dias a torre) e quatro soldados (atualmente os peões), dispostos nos quatro cantos do tabuleiro de sessenta e quatro casas unicolores.
As peças diferenciavam-se pelas cores pretas, vermelhas, verdes e
amarelas. Os adversários jogavam individualmente e o lançamento de dados
designava a peça a ser movimentada. Quando a face um do dado surgia
movia-se um Soldado ou o Ministro. O número dois obrigava o movimento do
Navio. O três movia o Cavalo. O quatro movia o Elefante. Caso o dado
mostrasse o número cinco ou seis, eles eram considerados,
respectivamente, um ou quatro.

A evolução deste jogo indiano fez-se em três etapas:
1) Supressão dos dados. Esta modificação excluiu o fator sorte e os
jogadores passaram a contar apenas com seus raciocínios para vencer.
2) Reunião dos adversários diagonalmente opostos. Os pretos e verdes
opunham-se aos vermelhos e amarelos. Após a vitória parcial, os dois
membros restantes disputavam entre si a vitória definitiva.
3) Substituição das alianças diagonais por alianças lado a lado. Esta
mudança denota o nascimento da noção de estado em detrimento das
sociedades tribais.
Por ocasião das trocas comerciais e culturais entre países vizinhos, o Chaturanga é exportado em duas direções:
1) Para o Leste, onde ele transforma-se no “jogo do elefante” (Siang
K'i, na China) e no “jogo do general” (Tjyang Keui, na Coréia, Sho-gi,
no Japão).
2) Para o Oeste, onde ele é chamado de “jogo de xadrez” (Chatrang, na
Pérsia) e conhece uma imensa popularidade. Ainda na Pérsia, é criada
parte do vocabulário enxadrístico utilizado até hoje, e o número de
parceiros é reduzido a dois (pretos e vermelhos).
Simultaneamente, cria-se uma nova peça: o Xá (Rei).
Na literatura persa, Fidursi (940-1021) em sua poesia épica
Schanamekh, o livro dos reis, refere-se a um presente de altíssimo valor
oferecido pelo embaixador indiano ao rei persa Chosroes I, cujo reinado
foi de 532 a 579. O presente nada mais era do que um rico tabuleiro com
suas peças. Assim, o Chaturanga passou da Índia para o Irã, onde se
chamou Chatrang.
Por volta do ano 651 d.C., com a conquista da Pérsia, os árabes
adotam este jogo, valorizando-o e difundindo-o por todo o Norte da
África, assim como por todos os reinos europeus dominados nos séculos
seguintes, em particular para a Espanha (onde recebe, sucessivamente, os
nomes de: Acedrex, Axedres, Axedrez, Ajedrez), Portugal (Xadrez), a
Sicília (Scachi, Scacchi), a costa francesa do Mediterrâneo (Eschec,
Eschecz, Eschecs, Échecs) e a Catalunha (Escacs, Eschacs, Scacs, Schacs,
Eschacos, Schachos).
Os mais antigos manuscritos consagrados inteiramente ao xadrez,
denominados Mansubas, aparecem em Bagdá, durante a Idade de Ouro Árabe.
Não tendo em sua língua nem o som inicial nem o som final da palavra
Chatrang, eles a modificam para Shatranj. Aproximadamente em 840, Al
Adli, melhor jogador do seu tempo, publica um manuscrito
Livro do xadrez (este original foi perdido). É dele o problema apresentado no diagrama a seguir.
Diagrama 1
Bagdá – Iraque
As pretas jogam e dão mate em três lances.
Seu contemporâneo Ar Razi (847) escreve
Elegância no xadrez e, no século seguinte, Al Suli (946) faz dois volumes do seu
Livro do xadrez. Rabrab apresenta o
Livro de problemas de xadrez
(1140) com o primeiro estudo sobre o final Rei e Torre versus Rei e
Bispo! (Até então, a vitória ocorria através do mate, do pate e do rei
solitário).
No início do século IX, o califa de Bagdá Haroun-al-Rachid (766-809)
oferece a Carlos Magno (768-814) um jogo em mármore, hoje desaparecido.
Conservam-se, no entanto, na Biblioteca Nacional de Paris (França),
algumas peças denominadas Charlemagne…
No século XI, o xadrez é conhecido em toda a Europa, onde ele sofre uma curiosa modificação: o Ministro torna-se a Rainha!
A transformação de uma peça masculina em Rainha pode ser considerada
como um indício da crescente valorização da mulher durante o período
medieval, mas também como metáfora de uma sociedade dominada por um
casal monárquico. Porém, para o psicanalista Isador Coriat (1941) é
possível que esta metamorfose tenha sido motivada por uma tendência a
identificar-se inconscientemente o xadrez com a estrutura do complexo de
Édipo, o Rei simbolizando o pai e a Rainha a mãe.
Pelo menos quatro obras hebraicas sobre o xadrez são escritas na Idade Média, sendo três delas em verso. A mais bonita é o
Poema de Xadrez atribuído ao célebre rabino sefardita Abraham Ibn Ezrah (1092-1167), um dos mais notáveis representantes do Século de Ouro.
“Canto uma canção sobre uma batalha preparada,
Antiga e imaginada em dias passados,
Arranjada por homens de prudência e inteligência,
Disposta em oito fileiras.”
Assim inicia-se este importante poema de 76 linhas que descreve as
regras deste passatempo composto por peças de duas cores, simbolizando
os Etíopes (pretas) e os Edomitas (vermelhas).
Na Idade Média, o “jogo dos reis” adquire, rapidamente, o status de
passatempo favorito da sociedade aristocrática européia, sendo proibida a
sua prática entre os pobres. Recomenda-se começar sua aprendizagem aos
seis anos de idade. As mulheres nobres não hesitam em sentar-se em
frente do tabuleiro, mostrando-se, inclusive, tão hábeis quanto os
homens. Estes, só têm o direito de entrar em um aposento feminino com o
objetivo explícito de jogar xadrez.
A maior parte dos divertimentos são comuns a todas as categorias
sociais (passeios, teatro, música, canto, dança, jogos de azar e de
salão). Mas há outros, como os torneios (a cavalo), a caça e o xadrez,
que são exclusivos da aristocracia, embora os espectadores possam
pertencer a qualquer camada social.
Até o final do século XII, as casas do tabuleiro (seja ele de madeira
ou de metal) eram monocromáticas, geralmente brancas, com os traços
horizontais e verticais apenas esculpidos, às vezes realçados em
vermelho.
No século XIII, as casas passam a ser divididas em duas tonalidades, o
que facilita a visão dos lances e consequentemente, o raciocínio dos
enxadristas.
Paralelamente, a Igreja católica proíbe a prática deste jogo, muito
relacionada com apostas em dinheiro. Em 1212, o Concílio de Paris
anatemiza o xadrez, após sua condenação pelos bispos Guy e Eudes de
Sully. Esta sentença é confirmada na Polônia pelo rei Casimiro II e na
França por São Luis (1226-1270). Pode-se, entretanto, admirar, nos dias
de hoje, um belo jogo de cristal de rocha, conservado no Museu do Louvre
de Paris, cuja propriedade remontaria ao próprio santo…
Estas proibições não surtiram os resultados esperados e o xadrez
continuou a ser praticado pelos nobres e pelos religiosos, a tal ponto
que o padre espanhol Ruy Lopez de Segura é reconhecido como o melhor
enxadrista de sua época. Em 1561, ele publica um tratado impresso sobre a
“abertura espanhola”, ainda em voga em nosso tempo:
Libro de la invención liberal y art del juego del axedrez (Livro da invenção liberal e arte do jogo de xadrez). Esta obra foi traduzida para vários idiomas.
Nesta data, Ruy Lopez idealiza a criação do roque, lance que será
aceito por volta de 1630 na Inglaterra, França e Alemanha. O roque não
se efetuou sempre da mesma maneira. No início, o Rei e a Torre, que não
haviam se movimentado, trocavam seus lugares. Mais tarde, uma das Torres
instalava-se ao lado do Rei e este, no mesmo lance, saltava-a
colocando-se em qualquer das casas adjacentes.
Embora não se conheça o inventor da captura
en passant, coube a Ruy Lopez o mérito de difundi-la em 1560, aproximadamente, quando passou a adotá-la em suas partidas.
A possibilidade de o Peão avançar uma ou duas casas no início do seu
movimento surge três séculos antes, durante o reinado na Espanha de
Alfonso X, o Sábio, quando aparece um dos primeiros manuscritos
europeus: o
Libro del acedrex (Livro de xadrez) em 1283, conservado atualmente na Biblioteca do Museu Escorial de Madri.
Todavia, a invenção que revolucionará a estrutura do xadrez
origina-se na Renascença Italiana (em torno do ano 1485), com o então
chamado “o xadrez da rainha enlouquecida!” Até esta época, a Rainha
deslocava-se apenas em diagonal, e uma casa por vez.
Os Bispos acompanham a Rainha, passando a ter movimentos mais longos.
Até esta ocasião, eles deslocavam-se em diagonal de duas em duas casas,
com a particularidade de que podiam saltar outra peça.
Os Peões que atingem a última linha são promovidos a uma peça anteriormente capturada.
Em vinte anos as inovações espalham-se e as duas modalidades de
xadrez coexistem por toda a Europa. A nova maneira de jogar imprime um
maior dinamismo às partidas, devido à grande riqueza combinatória que
ela proporciona, e o antigo xadrez é, rapidamente, relegado ao
esquecimento.
Em 1619, Gioachino Greco (1600-1634) publica em Roma seu primeiro livro:
Trattato del nobilissimo e militare esercitio de scacchi (Tratado
do nobre e militar exercício do xadrez), onde suas partidas já denotam
uma audácia e um dom de invenção extraordinários para o ataque. Seu
principal defeito é atacar sem ter mobilizado todas as suas peças.
Il Calabrese,
como era conhecido, representa o apogeu do estilo primitivo que ignora
os objetivos intermediários (ganho de material, criação de Peão passado,
etc.) e conhece apenas os ataques diretos ao Rei adversário.
Em 1737, o sírio Felipe Stamma publica, em Paris, o livro
Le noble jeu des échecs (O
nobre jogo de xadrez), utilizando pela primeira vez na história um
sistema curioso e sintético de anotação: a Notação de Stamma, mais
conhecida, hoje, como “notação algébrica”. Ela designa as casas do
tabuleiro por duas coordenadas: uma abscissa alfabética e uma ordenada
numérica. Embora ofereça vantagens evidentes, pois é sucinta,
uni-referencial (partindo sempre da base das brancas), e de fácil
compreensão (independente dos idiomas dos enxadristas), ela precisará
esperar quase dois séculos e meio para ser aceita a nível mundial: desde
1980 é, enfim, o único sistema de notação reconhecido pela Federação
Internacional de Xadrez – Fide.
Porém, se os gênios enxadrísticos dos séculos XVI e XVII foram,
respectivamente, o espanhol Lopez e o italiano Greco, o astro
indiscutível do século XVIII foi o francês François-André Danican
Philidor, que publicou, em 1749,
L'Analyse du jeu des échecs (A
análise do jogo de xadrez). Nesta obra, o xadrez é apresentado como
ciência, possuindo princípios teóricos próprios. A célebre expressão “os
peões são a alma do xadrez” irá modificar de forma radical a conduta da
partida. É possível que este “Copérnico” do xadrez tenha sido
influenciado pelos filósofos Diderot, Voltaire e Rousseau, que, por
outro lado, muito influíram para o advento da Revolução Francesa (1789).
Além disso, no final de sua obra, ele propõe um dos primeiros
regulamentos enxadrísticos: casa branca à direita do jogador; peça
tocada, peça jogada; peça largada, lance efetuado; promoção ilimitada;
captura
en passant; roque; etc.
Algumas propostas, tais como a obrigatoriedade de dizer-se “xeque ao
rei”, não foram aceitas; outras, como a promoção ilimitada, irão dividir
a comunidade enxadrista por um século, antes de impor-se. Atualmente,
se existem regras internacionais, muito se deve a Philidor.
A situação de pate (impossibilidade de jogar) ilustra bem o caos em
que se encontravam os jogadores: na Arábia e na Espanha o lado
imobilizado perdia a partida. Ao contrário, na Itália (por sugestão de
Greco) e na Inglaterra o pate ganhava a partida! Na França e em outros
países considerava-se empate.
Philidor era também um grande músico: foi o criador da ópera-cômica.
Foi ainda recordista mundial, jogando três partidas simultâneas “às
cegas””. (Este recorde foi superado várias vezes, desde então, até 1951,
quando Koltanowski, sem ver os tabuleiros, enfrentou cinquenta
adversários!).
Em 1813, o periódico inglês
Liverpool Mercury inicia a publicação da primeira crônica enxadrística.
Em 1836, surge em Paris a primeira revista inteiramente consagrada ao xadrez:
Le Palamède, assim intitulada em homenagem ao herói grego.
Em 1850, a promoção ilimitada e o pate são definitivamente aceitos e
no ano seguinte abre-se a era moderna do xadrez com o Primeiro Torneio
Internacional de Mestres, disputado durante a Primeira Exposição
Universal de Londres.
Este torneio foi vencido pelo alemão Adolf Anderssen (1818-1879), um
professor de matemática, considerado o maior representante da
Escola Romântica,
sempre sacrificando material em busca do xeque-mate. Anderssen associa
um perfeito conhecimento da teoria em vigor com a grande imaginação dos
primitivos, destacando-se por seus mates de Bispos e Cavalos,
construídos após sacrifícios de Dama e/ou Torre(s). Duas de suas
partidas, popularmente conhecidas como Sempreviva e Imortal, tornaram-se
célebres na história do xadrez.
Durante o Torneio de Londres (1851), Anderssen venceu uma partida
amistosa, inaugurando o Sacrifício Imortal das duas torres brancas.
Evocar todos os sucessores de Anderssen seria tedioso, mas como falar
do xadrez moderno sem citar Wilhelm Steinitz (1836-1900) e Emanuel
Lasker (1868-1941)?
Com o primeiro, o positivismo filosófico entra no mundo deste jogo,
apresentando-o como um sistema lógico fechado, com regras bem definidas e
estáticas.
Steinitz é considerado o criador da
Escola Clássica,
distinguindo-se por lances profundamente lógicos que visam à realização
de planos inovadores: exploração de erros microscópicos (peões
isolados, casas fracas, peças sobrecarregadas, …), paralisia progressiva
das peças do adversário, bloqueio central antes de atacar nas alas,
maré de peões, etc.
Mestre da defensiva, mais que da ofensiva, grande especialista em
aberturas fechadas, Steinitz é considerado o “pai” do Gambito da Dama,
além de ter contribuído para o aperfeiçoamento de inúmeras outras
aberturas, entre elas: Gambito Evans, Gambito do Rei, Giuoco Piano,
Abertura Escocesa, Abertura Ponziani, Ruy Lopez, Abertura Vienense,
Defesa Francesa, Defesa Holandesa e Defesa Petrof. Steinitz, que na sua
juventude jogava no estilo romântico, sintetizou e renovou completamente
a teoria de sua época, sendo ainda um dos maiores finalistas de todos
os tempos. Foi, talvez, o pensador mais original e profundo de toda a
história enxadrística. Apesar disso, quando o peso da idade já se fazia
sentir, perdeu o título de Campeão do Mundo em 1894 e morreu, em extrema
pobreza, alguns anos depois.
Seu vencedor, Emanuel Lasker, foi a maior personalidade da história
do xadrez. Lasker, Doutor em filosofia (seguidor de Schopenhauer), era
também teatrólogo e um bom matemático (tendo escrito um livro no campo
da álgebra). Em 1895, publica o seu
Common Sense in Chess
(Bom-senso em xadrez) onde apresenta o xadrez e a vida como uma
constante luta e procura desvendar os princípios fundamentais que regem a
conduta da partida.
Seu estilo de jogo extremamente pessoal e que poderíamos chamar de
“dialético”, consiste em desequilibrar a posição, nem sempre realizando
as melhores jogadas, mas sim as mais desagradáveis para cada adversário.
Seus lances arriscados, e até teoricamente incorretos, levavam a luta
psicológica ao paroxismo, induzindo, com frequência, o oponente ao erro e
à derrota.
De todos os campeões mundiais, ele é aquele que mais colocou seu
título em jogo: sete vezes, perdendo-o, apenas em 1921, para o cubano
José Raúl Capablanca, após 27 anos de reinado.
Nesta época, alguns preceitos fundamentais da Escola Clássica de
Wilhelm Steinitz, cujos principais representantes são Siegbert Tarrasch
(1862-1934), o já mencionado Emanuel Lasker e Akiba Rubinstein
(1882-1961), são questionados por um grupo de jovens mestres oriundos
sobretudo do leste europeu.
Assim, inicia-se a chamada
Escola Hiper moderna,
cujos maiores representantes foram o tcheco Richard Réti (1889-1929), o
húngaro Gyula Breyer (1893-1921), o russo-francês Xavier Tartakover
(1887-1956) o letão-dinamarquês Aron Nimzovitch (1886-1935), o austríaco
Ernst Grunfeld (1893-1962) e, mais discretamente, o russo-francês
Alexander Alekhine (1892-1946).
A essência do hipermodernismo, que foi comparado na Pintura tanto ao
Impressionismo quanto ao Cubismo, baseia-se em sua descrença dos dogmas
clássicos. Ele ampliou os horizontes da conduta da partida, com a
contribuição de novas teorias que não negavam a importância do centro,
mas propunham um método inovador para controlá-lo à distância, sem
ocupá-lo: os Bispos em fianchetto (nas maiores diagonais do tabuleiro).
Assim, o centro de peões do inimigo poderia ser atacado com o auxílio
dos cavalos e dos peões laterais.
Essas novas ideias foram apresentadas por Réti em numerosas obras, entre as quais destacam-se
Die neuen Ideen im Schachspiel (As novas ideias no jogo de xadrez) de 1921 e
Die Meister des Schachbretts (Os mestres do tabuleiro de xadrez) de 1930. Esses dois livros foram capitais para a evolução do xadrez.
Enquanto Nimzovitch, Grunfeld e Alekhine desenvolveram novos sistemas
defensivos para as pretas, Réti criou para as brancas uma variedade de
aberturas: o “Sistema Réti”. Ele foi um notável estrategista e um genial
compositor de finais.
Em 1924, é fundada em Paris a
Fédération Internationale des Échecs
(Fide), que conta atualmente com 162 países membros (a terceira maior
federação esportiva do mundo, visto que a Fifa e a IAAF possuem, cada,
208 filiados). Sua divisa
Gens una sumus (Somos um só povo) proclama com orgulho (e ingenuidade) os ideais de seus iniciadores.
Em 1946, Alekhine, que detinha o título de campeão mundial,
arrebatado em 1927 a Capablanca, morre solitário em um hotel de Lisboa
(Portugal). A Fide assume, então, a organização dos campeonatos mundiais
de xadrez, e promove, em 1948, a primeira disputa do título mundial sob
suas próprias regras, através de um torneio reunindo os cinco mais
fortes grandes mestres da época. Venceu esse histórico torneio,
tornando-se o primeiro campeão mundial da Fide, o engenheiro eletrônico,
cidadão soviético, Mikhail Botvinnik (1911-1995).
Botvinnik foi o patrono da Escola Soviética, na qual se destacam os
campeões mundiais Vasily Smyslov, Mikhail Tal (1936-1992), Tigran
Petrosian (1929-1984), Boris Spassky, Anatoly Karpov, Garry Kasparov e
Vladimir Kramnik.
Em dezembro de 1986, a Fide e a Unesco criam, em Paris (França), a
Commission for Chess in Schools, que representará um importante papel na
difusão, no ensino e na democratização do xadrez enquanto instrumento
pedagógico utilizado nas escolas.
No Brasil, em 1993, o Ministério da Educação e do Desporto (MEC)
financiou os custos de produção e impressão de 15.000 exemplares do
livro
Xadrez: cartilha, distribuídos gratuitamente em centenas
de escolas públicas do país. Em 2007, com a mesma finalidade, o
Ministério do Esporte compartilhou tabuleiros, peças e 200.000
exemplares da brochura Xadrez. Em 2008, somaram-se à tiragem anterior
mais 240.000 exemplares.
Após mais de quatorze séculos, continua crescente o interesse
despertado pelo xadrez, pois suas inúmeras mudanças vieram sempre ao
encontro das aspirações das pessoas. É de se esperar, portanto, que com a
rápida evolução da sociedade moderna, novas modificações serão
incorporadas, em breve, a este belo esporte.
Referências
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DEXTREIT, Jacques; ENGEL, Norbert. Jeu d’échecs et sciences humaines. Paris: Payot, 1981.
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LAULAND, Luiz Jean. O xadrez na Idade Média. São Paulo: Perspectiva & Editora da Universidade de São Paulo, 1988.
LE LIONNAIS, François; MAGET, Ernst. Dictionnaire des échecs. Paris: Presses Universitaires de France, 1974.
MURRAY, Harold James Ruthven. A history of chess. Oxford: Oxford University Press, 1913.
PASTOUREAU, Michel. La vie quotidienne en France et en Angleterre au
temps des chevaliers de la Table Ronde. Paris: Hachette, 1976.
ROOS, Michel. Histoire des échecs. Paris: Presses Universitaires de France, 1990.
SÁ, Antônio Villar Marques de. Le jeu d'échecs et l'éducation:
expériences d'enseignement échiquéen en milieux scolaire, périscolaire
et extra scolaire (O jogo de xadrez e a educação: experiências de ensino
enxadrístico em âmbitos escolar, periescolar e extra-escolar). 1988.
432 f. Tese (doutorado), Département des Sciences de l'Éducation.
Financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq). Université de Paris X – Nanterre, França.
SAIDY, Anthony; LESSING, Norman. The world of chess. New York: Ridge Press & Randon House, 1974.
VASCONCELLOS, Fernando de Almeida. Apontamentos para uma história do xadrez. Brasília: Da Anta Casa Editora, 1991.
WILSON, Fred. A picture history of chess. New York: Dover, 1981.
Antônio Villar Marques de Sá
é Professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília,
Doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Paris, Co-autor dos
livros Xadrez: cartilha (MEC, Ministério da Educação e do Desporto,
1993; SMEL, Secretaria Municipal de Educação de Londrina, 1996),
Iniciação ao xadrez escolar (SECG, Secretaria de Educação e Cultura de
Goiás, 1997) e Xadrez (ME, Ministério do Esporte, 2007)."
Fonte:
http://www.aulasdexadrezonline.com.br/2014/07/a-historia-do-xadrez/